segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O JURAMENTO PROFERIDO PELOS MÉDICOS RECÉM-FORMADOS SOFREU MUTAÇÃO NO DECORRER DA HISTÓRIA

Abaixo, conheça o texto integral do juramento proferido pelos médicos recém-formados. Antes, leia, na íntegra, o Juramento de Hipócrates, que serviu de inspiração para a versão atual. Só lembrando que o dito juramento foi modificado várias vezes, duas delas já no presente século.

Hipócrates é considerado o pai da medicina.


JURAMENTO DE HIPÓCRATES

"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higéia e Panacéia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.

Conservarei imaculada minha vida e minha arte.

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.

Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

ABAIXO, A ÚLTIMA VERSÃO DO JURAMENTO PROFERIDO PELOS MÉDICOS


"NO MOMENTO DE SER admitido como membro da profissão médica:

EU JURO SOLENEMENTE consagrar a minha vida a serviço da humanidade;

EU DAREI aos meus professores o respeito e a gratidão que lhes são devidos;

EU PRATICAREI a minha profissão com consciência e dignidade;

A SAÚDE DE MEU PACIENTE será minha primeira consideração;

EU RESPEITAREI os segredos confiados a mim, mesmo depois que o paciente tenha morrido;

EU MANTEREI por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica;

MEUS COLEGAS serão minhas irmãs e irmãos;

EU NÃO PERMITIREI que concepções de idade, doença ou deficiência, religião, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça, orientação sexual, condição social ou qualquer outro fator intervenham entre o meu dever e meus pacientes;

EU MANTEREI o máximo respeito pela vida humana;

EU NÃO USAREI meu conhecimento médico para violar direitos humanos e liberdades civis, mesmo sob ameaça;

EU FAÇO ESTAS PROMESSAS solenemente, livremente e pela minha honra."

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

FAMOSOS ESCRITORES BRASILEIROS VACILAM NO PORTUGUÊS

Alguns modernistas brasileiros, tendo à frente o poeta Mário de Andrade, defendiam que uma frase poderia ser iniciada por um pronome átono, ao contrário do que dizia - e ainda diz - a regra gramatical pertinente ao caso.

Eles defendiam, portanto, que frases do tipo "O vi hoje", são corretas. Ou ainda: "As conheci há pouco".

A reação não demorou a chegar, o que fez os modernistas recuarem, com exceção de Mário de Andrade, que mesmo diante das ponderações de Manuel Bandeira, preferiu continuar no erro.

O escritor Guimarães Rosa também pisou na bola. A palavra estória, comumente aceita como sendo um relato de fatos não comprovados ou fictícios, fora designada para tal fim no início do século XX por um acadêmico brasileiro, mas sem respaldo etimológico.

Etimologistas dizem, no entanto, que tal neologismo é uma frescura estilística, uma vez que, no Português, não há razão linguística para adotá-lo, mesmo quando se queira diferenciá-lo de história.

Envolto pela tradição folclorística do termo, o conhecido escritor Guimarães Rosa acabou publicando, em 1962, um livro com o título Primeiras Estórias.

Portanto, segundo recomendação etimológica, não se deve usar o termo estória, mesmo em se tratando de evento fictício.

Era comum, desde o século XIX, mentes brasileiras das mais diversas áreas do conhecimento guardarem um amor especial pela língua portuguesa, tanto que muitos, não somente da Literatura, mas do Direito, Filosofia, História e até da Medicina, dedicaram boa parte de seu tempo com o estudo da nossa língua. E faziam questão de demonstrar o que haviam aprendido.

Tal fenômeno se deveu, provavelmente, à imediata associação do profundo conhecimento da língua portuguesa à erudição, objeto de desejo de muitos homens e mulheres das mais diversas áreas.

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

DISCURSO DE RUI BARBOSA EM DEFESA DOS ADVOGADOS CONSTITUI-SE NUMA BANDEIRA EM PROL DO PODER QUE A PALAVRA EXERCE SOBRE O SER HUMANO

Para os mais íntimos do Direito e da História certamente não é surpresa a importância que é atribuída ao jurista Rui Barbosa para a diversificação e proliferação de ideais republicanos e democráticos no Brasil.

Foi consagrado internacionalmente em 1907, no Congresso de Haia, onde defendeu o espaço geográfico brasileiro. Ele e um diplomata alemão foram considerados os dois homens mais influentes no referido congresso.

Jurista nato, sustentou em discursos a importância da figura do advogado para a solidificação da democracia. Tais discursos partiram da lavra de Rui Barbosa exatamente porque o bacharelismo brasileiro sofria duras críticas, quando era acusado de ser mais teórico e menos prático.

Eduardo Prado, escritor e um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras, foi, no século XIX, o maior crítico do bacharelismo brasileiro, pois, segundo o academista, o bacharel havia sido complacente com os males da política do país. No século XX, por sua vez, foi Gilberto Freyre quem teceu fortes críticas ao curso de Direito da Faculdade de Recife, tradicionalmente uma das melhores do país, cuja crítica guardava certa sintonia com a do escritor paulista.

A crítica de Eduardo Prado não foi somente teórica. Em sua propriedade rural havia um caboclo que era de uma habilidade extraordinária, pois fazia de tudo um pouco. O academista o apelidou de "Bacharel" e quando ele (Eduardo Prado) passava por alguma dificuldade, dizia rindo: "Chamem o Bacharel, que ele conserta tudo."

Segundo Prado, que era monarquista convicto, esse "conserta tudo" é que teria trazido os males para a República.

Dez anos após a morte do academista, Rui Barbosa proferiu, em maio de 1911, um discurso de posse no Instituto dos Advogados Brasileiros, através do qual fez duras críticas aos críticos do bacharelismo. Eis parte das palavras do renomado orador baiano:

"Os governos arbitrários não se acomodam à autonomia da toga, nem com a independência dos juristas, porque esses governos vivem rasteiramente da mediocridade, da adulação, da mentira, da injustiça, da crueldade e da desonra. A palavra os aborrece porque a palavra é um instrumento irresistível de conquista de liberdade. Deixai-a livre, onde quer que seja e o despotismo está morto."

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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A ORIGEM DA UTILIZAÇÃO DE NOMES DE PESSOAS EM PRÉDIOS PÚBLICOS

Recentemente o Conselho Nacional de Justiça ordenou que fossem retirados os letreiros que indicavam os nomes de pessoas vivas nos prédios públicos no Poder Judiciário. Tais letreiros ficavam, por tradição, expostos na parte externa dos prédios, facilmente visualizados.

A questão é: de onde vem e qual a fundamentação histórica da tradição de se colocar nomes de pessoas vivas em prédios públicos, que até pouco tempo atrás era bastante aceita no Brasil? Resposta: vem dos gregos, mas foram os romanos quem deram a sedimentação necessária e sua fundamentação sociológica para o Ocidente.

O antigo romano fazia questão de ser um homem público, assim como os gregos. Estes, mais puritanos do que aqueles, entendiam o serviço público como uma forma de prestar um serviço à coletividade. O romano, por sua vez, via no serviço público a chance de fazer prosperar seu nome, sua fama e portanto suas virtudes.

Tácito, escritor do clássico Anais - escrito no início do II século d.C. -, assinala que para um romano a fama estava diretamente associada à virtude de um homem. Ou seja, quanto mais lembrado ele fosse, maiores eram os indicativos de que ele era um homem com virtudes, com atributos dignos de louvor.

De forma gradativa estabeleceu-se entre os romanos um costume um tanto curioso: sempre que um cidadão fizesse uma festa através da qual ele ou um dos seus fosse o agraciado, deveria ofertar à cidade um presente, de modo que fosse utilizado por toda a comunidade.

Por exemplo: se um romano pretendesse ser chamado de nobre, virtuoso, ao fazer seu próprio aniversário ele deveria doar certa quantia em dinheiro aos cofres públicos, ou - em alguns casos -, construir um prédio público, que levaria seu nome. Vale ressaltar que eram poucos os casos em que um romano agia assim, mas sempre acontecia quando ele desejava manter a fama de ser um homem nobre, virtuoso. Eventos como festas de casamento eram propícios para que ocorresse essa doação pública.

Caso este mesmo romano preferisse fazer a festa em um local reservado, de modo que não presenteasse o Poder Público, corria o risco de cair no esquecimento e, assim, agir contrariamente aos seus princípios. O dilema residia exatamente no risco da população saber que Fulano de Tal, sendo um homem rico, nobre, preferiu realizar o evento às escondidas, o que certamente diminuiria seu prestígio. Logo, ou se fazia a festa e convidava os concidadãos (e presenteava a cidade com um prédio público ou dinheiro) ou melhor seria não arriscar fazer a festa de forma furtiva.

Havia, ainda, casos em que este romano preferia criar uma fundação pública, que além de ser entregue ao Poder Público, deveria levar o nome do doador. Tudo isto eram formas de perpetuar o nome e o prestígio dos romanos, que eram obstinados pela fama, pela associação desta com a virtude e a nobreza.

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domingo, 5 de setembro de 2010

PADRES PROVOCARAM ABORTO DE CRIANÇAS CUJO PROCEDIMENTO FORA APROVADO POR UNIVERSIDADE

Desde a origem do cristianismo a Igreja tem desaprovado o aborto, cujo posicionamento é justificado com base em textos bíblicos. Há registros, porém, de que na América Latina - mais precisamente no Brasil - padres católicos não somente defenderam o aborto como efetivamente contribuíram neste sentido.

A partir do final do século XVI o papa autorizou os padres jesuítas praticarem a medicina em regiões onde não houvesse médicos, desde que os novatos fizessem um estágio de apenas um mês.

No Brasil, por exemplo, que não dispunha de médicos no início do período colonial, passaram a ser responsáveis pela erradicação de quaisquer doenças no país. Nem mesmo os índios ficaram de fora: as atividades missionárias dos jesuítas eram acompanhadas de práticas medicinais, ainda que tal procedimento entrasse em choque com a tradição indígena.

No início os jesuítas se recusaram a adotar ervas e plantas como meios de cura, alegando que tais recursos já eram usados pelos indígenas e portanto, de procedência diabólica. Em vez de plantas e ervas, o jesuítas preferiam rezas, água-benta e óleos que levavam nomes de santos.

Ante a ineficiência do método, somente aos poucos se renderam à sabedoria indígena. Há vários registros que dão conta da existência, antes mesmo do final do século XVII, de minifarmácias constituídas somente de produtos naturais.

Mas os recursos espirituais dos padres não foram deixados de lado. Em períodos de grandes mortandades causadas por varíola ou sarampo, preces, procissões e autoflagelação eram comuns entre o rebanho católico.

No Sul do Brasil, por exemplo, o padre Cardiel registrou que muitos índios contraíram varíola, de modo que as mulheres grávidas perdiam seus bebês ainda na barriga. Aquelas, porém, que estavam prestes ao parto, foram orientadas pelos padres a beberem vinho com pimenta moída para apressarem o nascimento da criança.

O motivo, no entanto, era somente um: praticar o batismo das crianças antes que elas morressem, uma vez que, segundo os jesuítas, era comum as mesmas morrerem pouco antes do parto em decorrência da doença da mãe e, quando chegavam a nascer, logo pereciam.

Segundo os ditos padres, se elas morressem sem batismo (mesmo na barriga da mãe) seriam pagãs, sem salvação da alma, daí o porquê do aborto.

O caso foi discutido na Universidade de Córdoba, na Argentina, que acabou aprovando a prática do aborto, quando alegaram motivo justo, ou um "santo fim", no dizer da Universidade.

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