segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A ORIGEM DA UTILIZAÇÃO DE NOMES DE PESSOAS EM PRÉDIOS PÚBLICOS

Recentemente o Conselho Nacional de Justiça ordenou que fossem retirados os letreiros que indicavam os nomes de pessoas vivas nos prédios públicos no Poder Judiciário. Tais letreiros ficavam, por tradição, expostos na parte externa dos prédios, facilmente visualizados.

A questão é: de onde vem e qual a fundamentação histórica da tradição de se colocar nomes de pessoas vivas em prédios públicos, que até pouco tempo atrás era bastante aceita no Brasil? Resposta: vem dos gregos, mas foram os romanos quem deram a sedimentação necessária e sua fundamentação sociológica para o Ocidente.

O antigo romano fazia questão de ser um homem público, assim como os gregos. Estes, mais puritanos do que aqueles, entendiam o serviço público como uma forma de prestar um serviço à coletividade. O romano, por sua vez, via no serviço público a chance de fazer prosperar seu nome, sua fama e portanto suas virtudes.

Tácito, escritor do clássico Anais - escrito no início do II século d.C. -, assinala que para um romano a fama estava diretamente associada à virtude de um homem. Ou seja, quanto mais lembrado ele fosse, maiores eram os indicativos de que ele era um homem com virtudes, com atributos dignos de louvor.

De forma gradativa estabeleceu-se entre os romanos um costume um tanto curioso: sempre que um cidadão fizesse uma festa através da qual ele ou um dos seus fosse o agraciado, deveria ofertar à cidade um presente, de modo que fosse utilizado por toda a comunidade.

Por exemplo: se um romano pretendesse ser chamado de nobre, virtuoso, ao fazer seu próprio aniversário ele deveria doar certa quantia em dinheiro aos cofres públicos, ou - em alguns casos -, construir um prédio público, que levaria seu nome. Vale ressaltar que eram poucos os casos em que um romano agia assim, mas sempre acontecia quando ele desejava manter a fama de ser um homem nobre, virtuoso. Eventos como festas de casamento eram propícios para que ocorresse essa doação pública.

Caso este mesmo romano preferisse fazer a festa em um local reservado, de modo que não presenteasse o Poder Público, corria o risco de cair no esquecimento e, assim, agir contrariamente aos seus princípios. O dilema residia exatamente no risco da população saber que Fulano de Tal, sendo um homem rico, nobre, preferiu realizar o evento às escondidas, o que certamente diminuiria seu prestígio. Logo, ou se fazia a festa e convidava os concidadãos (e presenteava a cidade com um prédio público ou dinheiro) ou melhor seria não arriscar fazer a festa de forma furtiva.

Havia, ainda, casos em que este romano preferia criar uma fundação pública, que além de ser entregue ao Poder Público, deveria levar o nome do doador. Tudo isto eram formas de perpetuar o nome e o prestígio dos romanos, que eram obstinados pela fama, pela associação desta com a virtude e a nobreza.

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3 comentários:

  1. Ainda bem que essa moda acabou. Era um verdadeiro absurdo. Tal fato beneficiava, SE É QUE ISSO BENEFICIA ALGUÉM OU ALGUMA COISA, sobretudo, traficantes de influências, poderosos, sem compromisso com a coisa pública e com os preceitos fundamentais da Lei Maior.

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  2. Ainda bem que acabou mesmo. Passados dois mil anos e a distância cronológica é como um espelho que reflete a soberba imagem: homens que perseguiam a fama e pensavam que esta era uma inequívoca prova de nobreza (do ponto de vista moral). Será que o problema está no espelho? Ora, naquela época, dificilmente um concidadão romano detectava a hipocrisia em tais atitudes. Hoje, ela - a hipocrisia -, é refletida a olhos vistos e ainda botamos a culpa no espelho. Não pequemos e evitemos os anacronismos. Graças a esse puritanismo (não pecarmos pelo anacronismo) é que vemos onde está o problema . . . não está no espelho.

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  3. Recentemente o próprio Conselho Nacional de Justiça revogou a Resolução que impedia o uso do nome de pessas vivas em prédios públicos.

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