terça-feira, 25 de julho de 2017

VOLTAIRE E O PRESBITERIANISMO DO SÉCULO XVII



Em Cartas Filosóficas, o iluminista Voltaire (1694-1778) emite sua opinião acerca do presbiterianismo praticado na Inglaterra durante o século 17, embora o filósofo tenha vivido no século seguinte. Antes de qualquer outra coisa, vale lembrar que Voltaire não era católico nem protestante, e não tinha nenhuma simpatia pelas igrejas, o que pode comprometer de algum modo o valor histórico de suas palavras, pois é uma mera opinião pessoal, com base em seus valores morais.

Voltaire inicia afirmando que o referido segmento protestante "não é outra coisa senão o calvinismo puro tal como havia sido instalado na França e que subsiste em Genebra", revelando que os presbiterianos eram muito zelosos no tocante à moral bíblica.

O filósofo afirma ainda que os líderes presbiterianos recebiam pouco dinheiro de suas igrejas, fato este que, segundo ele, os impedia de viver no mesmo luxo dos bispos católicos. Voltaire vai além: assegura que reside aí o motivo que leva o presbiterianismo a condenar a vida luxuosa, ignorando, assim, o fato de que a Bíblia diz que o amor ao dinheiro é idolatria. 

A propósito, Voltaire sugere que, em matéria de pobreza e riqueza financeira, os presbiterianos estavam para Diógenes assim como os católicos estavam para Platão. Como é sabido, Diógenes (o Cínico) era extremamente pobre, ao passo que Platão, de farta riqueza. Voltaire estava dizendo, portanto, que os líderes presbiterianos eram muito pobres financeiramente, ao passo que os líderes católicos eram muito ricos.

O filósofo iluminista é de parecer, ainda, que os ditos protestantes foram mais deselegantes com o rei Eduardo Carlos II (deposto por um presbiteriano, Oliver Cromwell) do que o mesmo Diógenes havia sido com Alexandre, o Grande. Conforme nos relata a história grega, Diógenes tomava banho de sol quando, inesperadamente, recebeu a visita do temido imperador. Este, que apesar da riqueza e do poder de que dispunha, demonstrava considerável admiração por Diógenes, que, de forma crítica, preferiu viver em um barril, sem os mínimos hábitos de higiene. Quando se aproximou do rebelde Diógenes (que tomava banho de sol), Alexandre se identificou e se mostrou pronto a atender a um pedido daquele, desde que não fosse seu trono. Como resposta, Diógenes pediu que o rei saísse de sua frente, pois havia se colocado entre o "banhista" e o sol, de modo que o lazer estaria comprometido. Segundo Voltaire, depois de deposto, o rei Carlos II foi vítima de grandes humilhações pelos presbiterianos, visto que o rei foi obrigado a assistir a quatro pregações evangélicas todos os dias, além de receber ordens para não jogar.

O francês Voltaire atesta, ainda, que o puritanismo praticado pelos presbiterianos escoceses era superior ainda àquele ensinado pelo antigo romano Catão, que, de praxe, se insurgiu contra o luxo, impondo uma austera disciplina moral na administração pública.

Outro dado curioso retirado de Voltaire é com relação à santificação do domingo na Inglaterra. Para ele, foram os presbiterianos que impuseram tal costume, de sorte que a população ficou proibida de trabalhar e de se divertir. Assim, segundo o mesmo autor, os ingleses ficaram privados do lazer cultural no que diz respeito ao teatro e à ópera (bastante difundida no Renascimento), sem falar que o jogo com cartas foi proibido.

O filósofo afirmou, também, que, embora o anglicanismo e o presbiterianismo fossem as duas denominações protestantes mais abundantes na Inglaterra, as demais eram bem-vindas, de modo que havia comunhão entre as igrejas protestantes, com ligeiras dissidências entre alguns líderes.

Voltaire finaliza dizendo que, se na Inglaterra existisse somente uma denominação protestante, o despotismo seria um fato. Se existissem duas, ambas lutariam entre si até a morte recíproca, mas - termina o autor -, "como há trinta, vivem em paz e felizes". Era apenas a opinião do filósofo.

Curiosidades à parte sobre Voltaire: era inimigo das doutrinas bíblicas, era caloteiro (comprava livros e não pagava), violento fisicamente (certa vez deu uma surra num cobrador pelo fato deste lhe cobrar uma dívida não paga), sem contar que, na ânsia da morte, padeceu de sérios tormentos espirituais e psicológicos.
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