Em meados do século 19, Gonçalves Dias (1823 - 1864), que há poucos anos havia sido nomeado professor de latim e história no Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro, fez uma inspeção nas bibliotecas públicas e religiosas no Norte do país, em busca de documentos históricos.
Vale lembrar que depois da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838, acentuou-se consideravelmente o interesse em preservar documentos históricos que pudessem contribuir com a "construção" da história do Brasil. Segundo o relatório, era o Maranhão quem concentrava a melhor das bibliotecas pesquisadas, embora não seja nada animador o que nos relatou o poeta e professor:
"Quanto à parte literária, é o Convento de Santo Antônio, o que mais avulta, contendo uma biblioteca de quase 2.000 volumes; mas por negligência, acham-se muitos, quase todos, danificados a ponto de não poderem servir.
Não havendo um catálago na biblioteca, tive de percorrer os volumes um por um, para que ao menos soubesse o que eles continham, e na esperança de encontrar entre eles livros dos que faltam nas nossas principais bibliotecas, ou algum manuscrito esquecido. Nada disso: são volumes de teologia casuística, de filosofia rançosa, que ao abrir-se pareciam estranhar e queixar-se da mão, que os importunava no descanso morto em que jaziam."
Dando prosseguimento ao relatório, Gonçalves Dias também comenta sua impressão acerca das bibliotecas públicas:
"Igualmente infrutíferas foram as minhas visitas à biblioteca pública, cuja história é a seguinte (...) Muitos dos particulares concorreram com obras de valor e somas de dinheiro, enquanto outros, disfarçando a sua má vontade, remeteram volumes traçados e estragados a ponto de que, para não danificar os outros, um dos últimos presidentes ordenou que fossem lançados à praia".
O consagrado escritor brasileiro, Wilson Martins, autor da também consagrada obra de 12 volumes, A história da inteligência brasileira, comentando o relatório em questão, assinala:
"Se a situação era essa em 1851, um quarto de século depois de criados os cursos jurídicos, isto é, quando já se havia tido tempo de remediar, pelo menos, as deficiências mais clamorosas (sem que, de toda evidência, nada fosse feito), pode-se imaginar o que seria no início desse período".
Com a lucidez que lhe era peculiar, conclui Wilson Martins:
"Fica demonstrado, igualmente, que a ideia toda fantasiosa dos conventos como focos ativos de cultura e amor aos livros não passa de uma construção do espírito, o que em nada concorria para amenizar, antes instigava, a atitude anticlerical das classes dirigentes".
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